"Ser é Escolher-se" Jean Paul Sartre

Não sei se criei este blog para me fazer entender ou apenas para ter algo que me obrigue a terminar os textos que começo. Fico a meio caminho de tudo, mas ao menos, conheço os caminhos que posso seguir se quiser.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Querida M.

Achamos que percebemos, que temos tudo definido, que sabemos, e partimos do principio que isso é verdade, para agirmos.
Quem não sabe se percebe ou não,quem não tem tudo definido, quem no fundo sabe que ninguém,nem uma única pessoa sabe o que está a fazer (mesmo quando pena que sabe), assusta-se. Tu, assustaste-te.
Podem achar que não sabes o que estás a fazer, mas afinal, ninguem sabe o que está a fazer: o que implica, que consequência terá, apenas age consoante o que lhe parece ser verdade no momento, no meio de tudo o que não pensou,viu, ou percebeu, no meio da vida a continuar e a não nos dar tempo de pensar, ver, e perceber (e ainda bem).
Quando se fala do coração, ainda é menos simples, menos definido, e se há uma coisa que sabemos as duas é que tu não consegues não saber, não ter algo definido, certo, a que te possas agarrar, e essa tua necessidade vem nem de mais nem de menos do que seres,tu mesma tão indefinida, e ser por isso que impões todas essas regras a ti mesma, para não te perderes.
Não admira que os médicos constantemente tentem controlar o coração: medir-lhe a tenção, fazer tudo para o manter estável, calmo, a bater ao ritmo certo. Não admira que andem sempre com o estetoscópio de um lado para o outro para que o possam examinar. O orgão mais impossível de controlar e que mais nos controla no fundo a nós, se este acelera, perdemos-lhe o controle. E mais importante: se este pára, morremos. O mesmo se passa emocionalmente, quando paramos o coração, quando o congelamos, é como se apagássemos, morrêssemos por dentro.
Não são só os médicos, também nós,constantemente,tentamos controlar coração, mantê-lo a um ritmo certo, calmo, previsível. Não é por acaso que quando falamos de emoções se utilize a metáfora do coração: que tão constantemente tentamos controlar, manter estável, drogá-lo e acalmá-lo com o uso da razão, avaliá-lo e analisá-lo, para perceber o que se passa conosco, e que mesmo assim desencadeia em nós tudo o que não esperavamos que fosse desencadeado, com mais controle em nós do que qualquer outra coisa. Mas é o seu pulsar, o que mantêm o sangue a correr nas veias, o que nos faz continuar a respirar, é aquilo que nos mantem, de facto, vivos, física e metafisicamente: é a vida, o seu simbolo, o seu sustento, o seu começo e (quando pára) o seu fim, a qualquer nivel, em qualquer ciscunstância.
Aquilo que não percebemos,é que não lhe temos de todo, controle algum. De algum modo, acaba por vir ao de cima tudo o que tão meticulosamente tentamos esconder de nos mesmos, ou desvalorizar, ou lá está, controlar.
Esquecemos, às vezes, o que nos mantêm reais e parte da verdade que nos rodeia, o que nos faz ser mais do que a humanidade do cérebro, faz-nos ser vivos, parte da natureza e do mundo, e parte de quem verdadeira e inatamente somos.
No fundo, é aquilo que nos liberta.
Nunca o deixes parar de bater, nunca te aprisiones, nunca desistas daquilo em que mais acreditas, nunca deixes essa parte de ti morrer até que ela chega ao fim.
Nunca, nunca, nunca, deixes de ouvir o coração, até que,simplesmente, ele pare de bater.
Que seja desta, que vires a página e comeces numa folha em branco, com tudo o que não esqueceste, sem tudo o que se tem de esquecer, que seja desta que se chegue ao fim do dia e tão bom como vivê-lo como recordá-lo, e como pensar no futuro. Tão cheio de sonhos, tão cheio de possibilidades, os teus sonhos, as tuas possibilidades, e aquilo que tens, e aquilo que não queres perder, e aquilo que irás largar, e principalmente, aquilo que te tens vindo a tornar.
Por muitas que sejam as expectativas, as esperanças, e as oportunidades que venhas a ter, talvez seja esta a mais importante, porque esta parte de ti, vale ouro,não a deixes ir, não agora.
Agarra-a, continua-a dentro de ti, guarda-a.

Adoro-te

sábado, 12 de março de 2011

Cara a cara

Enfrentar a vida, cara a cara, pelo que ela é. Amá-la, pelo que ela é. E deixá-la ir, às vezes, pelo que ela é.
Mudá-la por aquilo que (não) é, buscá-la, questioná-la, vivê-la, repeti-la e às vezes detestá-la.
Quando o que é preciso está por perto sabemos que sim, que estamos a viver, a nossa vida, o nosso reflexo, as nossas escolhas parecem quase que perfeitas e não mudaríamos um só pormenor, quando não, tudo parece estúpido, e ridículo, insuficiente.
Tudo o que fica por dizer e por fazer, é aquilo que faz mais falta.
Mas triste é quando algo termina sem que se sinta saudades, quando não se recorda uma só coisa que valesse a pena reviver, quando não se imagina uma coisa que pudesse (ou quisesse) ser vivido, esse vazio, essa falta de conteúdo, isso é triste, não a saudade.
A saudade tem um toque de alívio, de que algo se teve, de que se tem, de que se tem algo cuja ausência é insuportável. Sim, ter saudades passa por ter um medo de nunca mais ter o que se sente a falta, e ter medo, às vezes é bom, porque significa que temos alguma coisa a perder. E ter alguma coisa a perder é por si só, ter alguma coisa que vale a pena, e quando isso acontece, tudo passa a valer a pena também.
Ha pessoas que fazem o sangue voltar a correr nas veias quando este parece ter parado, algumas até fazer o coração bater de novo, conheci muitas dessas, e todas elas, ainda correm nas minhas veias, ainda me pertencem e eu a elas. E ainda há outras, outras que simplesmente se entranham na própria carne, que nos são o sangue, osso, pele e alma,que estão nos nossos movimentos, pensamentos e emoções, que já fazem parte de nós, trivial e também profundamente.
São essas que desbravam partes de nós que não conheciamos, são essas que genuina e realmente nos mudam, são essas ficam, e cujas saudades não duram anos, mas duram para sempre.
São essas as com as quais vivemos não só o que sabiamos que iamos viver, o que queiamos viver, mas aquela parte da vida que não faziamos ideia que ia ser parte da nossa vida, a parte da nossa história que, quando contamos, quase nem sentimos como nossa, aquilo que não foi suposto, nem desejado, aquilo que nos aconteceu.
Enfrentar a vida,cara a cara,frente a frente, para o que der,vier e mudar,é a unica coisa, que nunca,até ao fim dos nossos dias, poderemos alguma vez deixar de fazer.
De resto, vale tudo. De resto,nunca se sabe.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Desta vez

A vida é imprevisível, sim. Já o ouvimos dizer em todo o lado, em todas as circustâncias, é algo que aceitamos, sabemos, e para o qual achamos que estamos preparados. Achamos que não tomamos nada por garantido, assumimos que a vida é feita de mudança e que o tempo leva, traz e modifica tudo o que temos, tudo o que construímos, e tudo fica diferente, melhor ou pior, não interessa, fica diferente.
O problema, é que quando o dizemos, mentimos, nós não estamos preparados, nunca, porque o ser humano tem este hábito incombatível e irreprimível de pensar no futuro, planear, querer, desejar, esperar, sonhar, e isso é que acaba por ser a razão de tudo o que pensamos e fazemos, é que nos faz construir, agir, e não permitir que a vida passe por nós e não nós por ela.
Como se a única forma de conseguir estar no presente e saber o que fazer, fosse ter uma ideia, nem que seja ténue, do futuro, do que se vai passar a seguir, ou do que queremos que se passe, ou até mesmo daquilo que acreditamos que se vai passar inevitavelmente.
As vezes isso faz-nos lutar, continuar de pé e a chegar mais perto a cada passo àquele futuro que tanto desejámos, que tanto nos ocupou tempo e pensamento. Faz-nos ter força para nos levantarmos mesmo depois de cairmos, ter vontade de continuar, independentemente das circunstâncias, das mudanças, das surpresas, e das desilusões, porque tudo o que fazemos passa a ter um sentido, como uma luz ao fundo do tunel, cuja luminosidade nos faz acreditar que quando lá chegarmos, tudo vai ficar melhor.
Mas de outras vezes, é isso que nos destrói, a impossibilidade de um futuro que desejamos, de algo que queremos e percebemos de repente que talvez não seja possível atingir, perceber que por vezes, nem tudo está nas nossas mãos, a liberdade e responsabilidade que juramos ter sobre os rumos da nossa vida não é assim tão vasta, faz-nos querer cair, baixar os braços, e dar voltas à cabeça, para pensar no que mais poderemos querer para além daquilo, que mais podemos ter vontade de atingir, e por incrivel que pareça, não surge nada, não temos nada. E naquele momento, quase que temos de fingir interiormente que sim, inventar desejos, ambições, sentidos, às vezes, até mesmo ocupações, só para não sentir o vazio que uma frustração deixa. Quando um desejo ocupa muito espaço dentro de nós, é obvio que a sua ausência vai deixar esse espaço vazio, inocupável pelo que (ou por quem) quer que seja, e tudo parece aleatório, sem sentido, cinzento e simplesmente estúpido.
Mas a verdade é que é so uma questão de tempo. Mais tarde ou mais cedo, o espaço começa a ser preenchido, a sede vai sendo saciada, a ferida sara e torna-se numa cicatriz e à medida que isso acontece, surgem outros verdadeiros desejos, outros verdadeiros futuros, que, afinal, também podemos querer, nem que sejam breves, nem que sejam próximos, nem que sejam simples, têm a capacidade de nos fazer sorrir outra vez, de nos levantar-mos com vontade e de nos levantar-mos com a coragem de, eventualmente, podermos voltar a cair, e a ferirmo-nos mais uma vez, porque percebemos que sim, que é melhor cair vezes sem conta do que ficar no chão, sem nunca ter dado um passo, tentado, aprendido, sentido o vento na cara e os pés bem assentes no chão.
Nas alturas em que tudo muda, quando percebemos que algo é possível ou não é, é aí que percebemos quem somos, o que queremos, são provas, testes, vivências e vão determinar o resto da nosa vida, por muito que não nos apercebamos disso. Porque, mais tarde ou mais cedo, temos de escolher, e são as escolhas que nos vão definindo aos poucos e nos tornando nos próprios, como se a vida fosse um oceano que se fosse perdendo em rios, canais, e fios de águas que se subdividem e conduzem sempre a algo novo, com mais milhões de possibilidade.

-Durante muito tempo, por tantas vezes que já não consigo contar, convenci-me que tu, aquilo que eu sempre quis mais (e sabes que eu por norma não sei o que é querer mesmo algo), estava fora do meu alcance, das minhas mãos, que havia histórias e futuros que simplesmente não eram atingíveis. Mas quando eu não esperava, quando eu depois de cair e baixar os braços decidi levantar-me e procurar outro rumo, outra direcção na qual caminhar, gritaste por mim, mais uma vez, e eu não dei mais passos pequeninos, não me levantei devagar, e não olhei para onde ia, e simplesmente voltei a correr para os teus braços porque a minha escolha, essa sempre foste tu, sempre que pude escolher que assim o foi. No ultimo instante, aquilo que a vida muda e o tempo modifica, aproxima-nos sempre, amis uns milimetros, e acabamos por nos escolher sempre um ao outro, já nem eu sei bem como, muito menos porquê, mas tem de ter algum significado, tem de nos fortalecer, tem de nos fazer falhar menos.
Espero que desta vez o futuro e os sonhos nao nos mintam, espero que este presente não nos fuja, espero que a vida, e o tempo, e as mudanças, não nos enganem de novo, porque a vista daqui é boa demais para me voltar a deitar no chão, sem forças, sem ti.
(Sempre achei que o que nos faz tão únicos, é andarmos para a frente como se nunca tivessemos medo de cair, mesmo quando o temos)

Obrigada, amo-te

sábado, 25 de dezembro de 2010

Desencontros

Tenho esta obcessão por não conseguir apagar uma vela antes que esta arda até ao fim, tenho que esgotar todas as possibilidades, tentar de todas as formas. Não devia querer tanto, gostar tanto, fazer tanto, esperar tanto, dar tanto, eu não devia acreditar tanto, mas não sei se tenho escolha, já faz parte de mim.
Porém não o mostro. Vou atirando cartas, pistas, fazendo gestos, guardando sentimentos até eles me explodirem simplesmente dentro de peito e até que eu perda a capacidade de seguir em frente. Não é por ter medo, não é por não conseguir, é por não querer. Conheço-me e sei que sou uma pessoa apaixonada por natureza e não seria sequer difícil para mim apaixonar-me outra vez, porque já me apaixonei outra vez e não foi preciso esperar muito, mas eu posso-me apaixonar as vezes que quiser que não sinto em mim a capacidade de me desapaixonar de ti.
Penso demais, em coisas inúteis, que simplesmente não tem utilidade prática nenhuma mas que me ocupam totalmente a cabeça, e quando começo a pensar em ti, ou se terás ou não significado para mim, é que eu me apercebo do tanto que ficou por dizer, é que eu me apercebo que uma mensagem tua, por mais fria e sem conteúdo que seja, é mais do que suficiente para me fazer sorrir sem razão nenhuma, e como eu sou uma perfeita idiota por ainda me sentir, de um modo tão intenso e irracional, ligada a ti. Porque tenho uma parte de mim que já te entreguei de tal maneira que acho que vai simplesmente ficar eternamente à tua espera, será eternamente tua, e não é a ti que tenho de esquecer, é a ela. Eu não sei, não consigo formular argumentos válidos para mmim mesma, só sei que depois de falar contigo é a altura em que enterro a minha cabeça na almofada com um sorriso ridiculo nos lábios e com a cabeça nas nuvens, que chego ao ponto de as vezes só o som da tua voz me provocar esta alegria inexplicánel, inconveniente, irracional. E é por esse tipo de coisas inexplicáveis, inconvenientes e irracionais, que este "não sei" se perpetua na minha cabeça, porque eu não consigo sair deste impasse e a culpa não é de mais ninguem senão minha.
As ligações nascem de pontos comuns, de momentos de encontro entre as pessoas, e nós éramos tão diferentes, convergíamos de uma forma tão extrema que nos era praticamente impossível esses momentos de encontro e sintonia na prática. Mas então, porque é que havia tantos? De onde é que vinha aquele elo de ligação que era o maior que alguma vez tinha vivido? Como é que se era tão difícil para mim entender-te, e para ti entender-me, conseguíamos instantaneamente ler os sentimentos um do outro, passar as emoções um ao outro só através do toque da pele ou do cruzar dos olhar? E porque é que apesar de nada fazer sentido quando olhava para nós à distância, eu continuava a passar literalmente para outro mundo só pelo mínimo contacto contigo, quase como se houvesse uma espécie de universo paralelo que parecia estar basicamente a nossa espera. Não percebo como é que com todas as inseguranças que eu tinha e que contigo se tornavam ainda mais presentes, contigo sempre tive confiança para dizer tudo o que me passava pela cabeça da forma como me passava pela cabeça, porque é que parecia que sabias sempre exactamente o que eu queria dizer, no fundo sabias exactamente quem eu era.
E eu, que nunca fui dada a romances nem almas gémeas, muito menos a idealizações, sempre fugi deste meu pressentimento que tive desde que te vi a frente, que era tudo diferente, como se o mundo todo estivesse a preto e branco e tu a cores. E esse pressentimento era no fundo que separados podíamos não ser sequer nada de especial, mas que éramos tão diferentes juntos, tão extraordinários unidos, que a grande pena foi o facto de raramente nos permitirmos estar, de facto, unidos sem construirmos barreiras gigantes e nos afastarmos em distância impercorríveis. No fundo era aquele pressentimento de que éramos “feitos um para o outro” e que não havia possibilidade de no mundo haver algo como tu.
Acho que as vezes depende de uma só escolha, ou do acaso, dou por mim a perguntar-me porque é que a Julieta não se limitou a sair com um homem normal, havia tantos, e poupava o drama a toda a gente, e depois percebo que assim não haveria história. Ao fim do dia, o que fizemos foi apenas arrancar páginas da nossa história e deitá-las à fogueira, poupámo-nos o drama, virámo-nos as costas, e sentir que a história ainda não acabou não adianta porque não há mais páginas, porque por muito que me arda no peito como álcool numa ferida que toda ela foi vã, que algo tão mágico resultou num livro rasgado no meio do chão, é impossível voltar atrás.
E eu até posso ter mudado, e tu podes ter mudado também, de uma maneira que tudo fosse possível, mas o problema é que o mundo mudou também, é que a vida mudou também, e agora termos mudado, isso já não vai mudar nada.
Contudo, antes de começar a pensar, antes de chegar à conclusão que não há volta a dar, só sinto que não é voltar atrás que quero, não quero voltar ao passado, o passado já está escrito e é nele que estão os nossos erros, ele já está estragado e longe de mim está qerer recuperar as páginas que já rasgámos, o que eu no fundo quero é andar para a frente, e não para trás, continuo a ser otária ao ponto de acreditar que quem sabe, poderíamos ser aquele um num milhão que se não desistiu com todas as oportunidades que teve, não tem de desistir enquanto acreditar, que poderíamos ser aquele um num milhão que consegue resolver as coisas, que não esquece os erros mas que os ultrapassa. Que poderíamos ser aquele um no milhão que fica com uma história para contar, aquele um num milhão que torna o sonho realidade.
Por mais vergonhoso que seja, acho que no fundo continuo a acreditar que nós iamos ser aqueles diferentes de todos os outro, aqueles que realmente conseguiam.
Talvez tivesse de acabar mal, talvez nunca valesse a pena sequer pensar em tentar, isso eu não sei, eu não tenho as respostas, a única resposta que tenho e que se me perguntarem se consigo ser feliz com outra pessoa eu digo que sim, mas que se me perguntarem se sinto a tua falta não consigo de todo responder que não, e mais do que saudades do que tínhamos juntos, sinto saudades de ti.
E daquilo que sinto mais falta, é de quando apareces num sonho meu à noite, eu conseguir acordar sem o considerar um pesadelo, por ter de acordar sem ti.
Continuo a repetir a mim mesma que um dia, um dia eu hei-de apagar as velas, esquecer o fumo, e desejar boa noite,e deixar alguém acordar-me e fazer-me feliz, outra vez.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Sabes há quanto tempo que não paro neste país? Não foi por acaso que me evaporei, que desapareci com o ar e com o tempo.

Andei a minha vida inteira a estabelecer objectivos e regras idiotas a mim mesma, por rejeitar as dos outros e por outro lado precisar delas, mas agora, sem vozes de fundo nem pressões exteriores, agora, na pureza de uma casa vazia e na calma do fim de tarde, só sei que nunca fiz a mais pequena ideia daquilo que quero. Aliás, acho que no fundo ninguém faz. A única coisa que desde os primórdios do mundo moveu o homem foi o amor, não apenas o romântico, mas o amor em si, a algo. Quer seja à arte, ao dinheiro, à vida, não interessa, sendo que obviamente o amor mais forte é o que é dirigido a alguém, visto que esse é o único amor que é recíproco: há sempre a esperança dessa pessoa nutrir por nós amor também (e não me parece que quem ame o seu trabalho esteja à espera de ser amado por ele, apesar de esperar ser amado ou admirado por causa dele, mas nunca na mesma proporção), o amor a alguém é o único possível de ser retribuido.
E é só através de um amor a algo que a vida ganha sentido, é a força que move o universo e que aproxima e afasta coisas. E só de uma aproximação entre coisas, se constroem coisas maiores: os átomos, os animais, os tijolos das casas, isso é visível seja qual for o lugar onde estejas ou no que quer que penses.
E eu sempre tive isto dentro de mim, esta vontade de construir algo maior, mas só o queria fazê-lo quando estivesse cem por cento certa de o querer, de estar preparada para o fazer. Essa tentativa cada vez se prova mais errada a ela mesma.
Nunca se está preparado para a vida, até porque ela faz questão de não se manter a mesma dois segundos seguidos, nunca é possível saber o que realmente se quer, isso não vai acontecer. Normalmente só temos certezas sobre aquilo que não queremos, e fugimos mais de medos do que perseguimos sonhos, e muitas vezes passamos a vida a fazê-lo. Fugimos mais de uma má vida, ou da solidão, ou da miséria, do que percorremos o amor, ou valores, ou ideais: ou seja, muitas das coisas da nossa vida vêm por acaso, e aparecem no caminho enquanto fugíamos de outra coisa qualquer, não me refiro a uma fuga covarde, mas a uma fuga de sobrevivência, raramente o que temos surge como exactamente o que procurávamos.
Mas quando chegaste à minha vida, foram esses os únicos segundos em que me lembro de não saber só o que não queria, mas ter a certeza do que queria: e nesses segundos, nesses breves segundos, a única coisa que eu queria realmente eras tu, e essa sensação de certeza, foi em mim por si só já um milagre. E é por isso que vou aí ter contigo, porque estou farta de percorrer o mundo sem nada sem ser a mim mesma, porque já não tenho mais medo de perder isso, e porque me vou levar a mim mesma comigo para te entregar mal te vir.
Tu ficaste e isso é razão suficiente para não te querer perder, porque és aquilo que eu tenho. E depois de ganhar a coragem para o admitir, és tudo aquilo que realmente quero ter.

sábado, 4 de dezembro de 2010

A tua história de encantar

Num dia bom, queriamos não acreditar que a nossa vida poderia ser um conto de fadas, que não sabemos o que há ao virar da esquina, que a vida vai florir de repente em todo o seu sentido, só por nos termos conseguido manter de pé durante todos aquele tempo em que nada o fazia, só por nos mantermos em pé e conseguirmos dar o melhor de nós mesmo quando nos sentimos não viver a vida que nos pertence, não ser o que queríamos, não estar onde devíamos. Continuamos a mesma criança, se pensarmos bem, que ainda sonha que vai haver um dia em que se acorda sem mais duvidas, numa felicidade que não e só momentânea mas que fica, sem haver necessidade de a andar sempre a perseguir como cães esfomeados.
Continuamos a querer ser as princesas ou os heróis da Disney que nunca sendo perfeitos, conseguiram a sua história e o seu final feliz. Continuamos todos os dias a acordar, a desejar a cada instante que o nosso sonho se torne realidade, mesmo quando não temos um, apenas ter a certeza que o nosso final vai ser feliz e que essa felicidade vai durar.
Por detrás de todos os discursos diários, por detrás de todas as definições que adoptamos para felicidade,de todos os planos e objectivos que traçamos, e por detrás daquilo que dizemos querer, ter ou precisar, todos desejamos o mesmo: esperamos por aquela aproximação à perfeição, por aquele equilibrio, que nunca conseguimos atingir por mais de segundos.
No fundo, passamos grande parte do tempo a sonhar acordados, a fantasiar com finais de contos de fadas, a pedir secretamente pelo dia em que tudo irá mudar, pelo dia em que acordamos e o mundo nos sorri mesmo nas piores alturas, em que acordamos e acreditamos que o príncipe encantado nos vem acordar do sono profundo, em que achamos possível o ter sempre tentado fazer a coisa certa seja recompensado, porque na verdade, não acreditamos muito nisso, ou não queremos de todo acreditar.
Porque é esse o problema de sonhar, depois custa acordar, e essa nossa falta de fé num final feliz, é apenas porque esse dia continua a aparecer-nos de vez em quando, esse dia de que aparecem as certezas, em que as dúvidas se evaporam, e em que seremos felizes para sempre.

Mas o mais impressionante de tudo, é que apesar de o sabermos, nunca parecemos lembrar-nos que mesmo as personagens encantadas, salvas pela magia e protegidas pelo bem, mesmo essas, foram envenenadas, adormecidas, presas, exploradas e maltratadas, os heróis e heroínas mais bravas foram desvalorizadas, gozadas, e acima de tudo: todos esses erraram.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Stand for yourself

Sempre que começamos algo, seja o que for: um livro, uma amizade, uma relação, uma banda… temos como ideia basicamente o mesmo, trata-se essencialmente de nós, de uma identidade, de um núcleo de coisas em que acreditamos afincamente das quais achamos inacreditável fazer parte.

Achamos tudo o que sentimos tão único, tão essencial. Tudo o que pensamos tão fresco e novo, que temos de o escrever, temos de o provar, temos de o fazer, temos de o continuar , de o partilhar. Todos nos queremos sentir especiais, e os inícios das coisas, a sua ideia, a sua essência, faz-nos fazer parte de alguma coisa, e fazer parte de alguma coisa faz nos ser mais alguma coisa, e ser mais alguma coisa faz-nos mais especias.

Mas o problema é que depois descobrimos que somos mais um na multidão, que o máximo que conseguimos é mais uma frase bonita, que podemos trabalhar dia e noite, o máximo que conseguiremos é mais um trabalho bem feito, entre os milhões que existem mundo fora. Podemos estudar o resto da nossa vida, que o que saberemos será de outros que o descobriram, nós só o aprendemos, seremos apenas mais uma pessoa que sabe muito. E é daí que é os brilhantes se tornam frustrados, que os génios se tornam doidos, que as crianças se tornam adultos e os adultos se tornam velhos. Porque será fácil sobressair no nosso bairro, mas pelo mundo fora não somos grande espingarda, e o problema é do mundo, é demasiado grande, não podemos ser tão grandes como ele.

É aí que sentimos como tão especial e único se revela ordinário, vulgar, normal, natural. Aliás, disse mal, isso não é o problema, isso é a verdade, é a inevitabilidade. É a realidade, que é uma desmancha prazeres, mas se não fosse, ninguém sonharia porque não valeria a pena, se tudo fosse de facto (e facilmente) possível. Mas,como disse, não é esse o problema. O problema é isso nos fazer desistir, achar que estamos condenados a ser nada de especial, a ser mais um, um no meio da multidão, mais um, na história da humanidade, mais um berço na maternidade e mais uma sepultura no cemitério. Esse é, sim, o verdadeiro problema.

Toda a gente que mete os pés neste carrossel azul e verde já conseguiu alguma coisa e falhou em milhões delas.
Já foi bom em alguma coisa e mau em outra. Até os maiores génios, até mesmo as pessoas que conseguiram destacar-se na multidão de tal forma, de uma forma tão extrema que não só foram um entre os milhões que existiam, como continuam a ser um entre os milhões de todos os que já existiram antes dele, e um entre milhões daqueles que irão existir depois de ele já ter desaparecido. O que é que está mal na nossa cabeça, afinal, para não esperarmos nada de novo já, nenhuma surpresa, nem mesmo por de nós mesmos? De já não acreditarmos em nada inesperado? Para acharmos que o pouco chega?

Como é que é fisicamente possível não pensarmos, ou recusarmo-nos a sentirmo-nos descontentes e insatisfeitos conosco, quando , sinceramente, até o Einstein teve más notas, até Sócrates se sentiu perdido, até Fernando Pessoa se embebedou, até Cristóvão Colombo já se deve ter perdido no meio de tanto mar, até Mozart já levou uma tampa, e até a Marlin Monroe trabalhou numa loja de gelados?